Varicocele: entenda tudo sobre a doença

A varicocele é uma formação de varizes nas veias da região do escroto, fazendo com que a função do testículo fique prejudicada. Entenda tudo sobre essa doença e como ela pode influenciar na infertilidade masculina.

Entender sobre a varicocele e quais são as causas dessa condição, é de extrema importância para saber identificá-la e reconhecer quando isso está afetando a sua fertilidade. 

A varicocele é uma formação de varizes nas veias na região do escroto, onde estão alojados os testículos, acontecendo uma dilatação e o refluxo do sangue. Isso acontece por conta do aquecimento desse órgão, fazendo com que a sua função fique prejudicada. Ou seja, a varicocele é o principal fator de aquecimento do testiculo, sendo a maior causa de infertilidade masculina

Ilustração comparativa de veia testicular normal x varicocele
Veia testicular normal x varicocele

Ela está relacionada com as mesmas varizes que se dão nos membros inferiores e, também, que acomete a hemorróida, que são encontradas na região anorretal. 

A incidência de varicocele nos homens é de aproximadamente 25% da população que apresenta qualquer alteração seminal e 11% com a análise normal. Mesmo sendo um dos principais fatores para causas de infertilidade masculina, em média, 80% vão ter filhos normalmente. 

Quais são as causas da varicocele?

A principal causa da varicocele é a má formação de nascença das veias. 20% da população já nascem com essas alterações na válvula que ajudam o sangue a voltar do testiculo para o coração, podendo ser a ausência desse mecanismo ou uma anormalidade que faz com que as pessoas tenham mais chances de ter problemas de varizes. 

A varicocele já é um problema de nascença. As veias já nasceram doentes, principalmente por conta da questão evolutiva, já que nós, seres humanos, nascemos para andar de quatro e com a evolução, as que não estavam acostumadas com a posição na vertical sofreram grandes pressões e acabam tendo essas alterações em muitas pessoas. 

É importante ressaltar que a mesma pessoa que apresenta varicocele, tem grandes chances de ter hemorroida e ainda mais possibilidade de ter varizes nas pernas no futuro. Com isso, é fundamental o acompanhamento, pois todos são espectros de uma mesma doença. 

Além disso, tudo aquilo que faz aumentar a pressão abdominal faz piorar a varicocele, então a obesidade pode interferir nesse cenário. 

É interessante ressaltar que é muito mais comum a varicocele ser do lado esquerdo, por questões anatômicas. A anatomia da veia do lado esquerdo é diferente do que no lado direito, favorecendo o aparecimento mais intenso das varizes no lado esquerdo do testículo, independente da constituição do paciente.  

Quais são os sintomas mais comuns da varicocele e como ela pode afetar a saúde do homem?

A maioria dos homens não tem sintoma nenhum, muitos deles não sabem que tem varicocele ou se sabe é por uma questão estética, onde percebeu a dilatação de um vaso local. 

No entanto, 20% da população que possui vão ter infertilidade, em contrapartida, 80% vão ter filhos normalmente e a doença não vai ser um problema. 

Existem alguns casos em que os pacientes podem ter dores no testículo, porém, entramos em um cenário mais complicado, já que essas dores podem ter causas diferentes. A varicocele pode gerar dor no testiculo, mas é raro, normalmente a dor não está relacionada a essa doença, sendo importante verificar. 

Se essa dor de fato existir por conta da varicocele, ela é parecida com os sintomas de varizes nas pernas, um peso no local, mais para o final do dia, após um dia cansativo de trabalho ou com exercício físico intenso. 

Com isso, vale reforçar que, na maior parte dos casos, a varicocele não apresenta sintomas. Em alguns casos, seu portador acaba descobrindo a infertilidade no futuro, na tentativa de se tornar pai. 

A varicocele tem diferentes graus? Como são classificados?

A varicocele possui uma diferenciação de graus e eles podem ser classificados por algumas características. A varicocele de grau 3, é aquela que só de olhar já dá para perceber as varizes, sendo o mais intenso, que dispensa a avaliação. 

Já a varicocele de grau 2, é aquela que o médico vai olhar e não vai enxergar as varizes, sendo necessário apalpar o cordão, trazendo ele com a mão e identificando os vasos. 

Por fim, a varicocele de grau 1, só é diagnosticada quando o médico pede para o paciente fazer força com a barriga e esse movimento encher as varizes. Ou seja, mesmo apalpando o cordão, ainda é necessário esse pedido para forçar o abdômen. 

Sendo assim, a varicocele é caracterizada por três graus e classificadas como visível, palpável e palpável com manobra de valsalva, que é essa ideia de fazer aumento da pressão abdominal. 

Como a varicocele é diagnosticada?

A varicocele é diagnosticada, principalmente, através de um exame físico. Isso porque, em alguns casos, o médico pode lançar a mão de um ultrassom de testículo quando o paciente é obeso ou possui um escroto mais curto, que fica rente ao corpo, por exemplo, apresentando dificuldade para realizar o exame físico. 

O exame físico é feito minuciosamente, apalpando o cordão, conforme citado anteriormente, analisando eventuais assimetrias ou hipotrofia testicular, sendo inchaço ou tamanhos diferentes. Caso não seja possível identificar, é pedido a manobra de valsalva. 

Muito se fala da análise seminal para diagnóstico da varicocele, no entanto, ela não pode ser um fator determinante, pois a alteração seminal pode representar apenas uma anormalidade na função do testículo e não necessariamente que possui varicocele. Porém, ela é muito útil para indicação terapêutica e para o acompanhamento da fertilidade daquele homem.

Pensando no paciente adoslecente, o diagnóstico da varicocele é feita pelo exame físico, com assimetria, o tésticulo esquerdo maior que o direito, o médico indica a cirurgia, já que não é recomendado esperar até que o jovem tenha idade para fazer o espermograma, aumentando as possibilidades de infertilidade. 

Quais são as opções de tratamento disponíveis para varicocele?

Antes de mais nada, é fundamental entendermos que a varicocele começa a acontecer desde a adolescência. Em algumas situações, ela vai atuar dificultando que haja o desenvolvimento do testículo. Nesse cenário, é importante diagnosticar e tratar o quanto antes. 

Para falarmos dos tratamentos, o primeiro ponto a se atentar é na alteração seminal. Se você fez um espermograma e deu essa alteração, é fundamental o tratamento juntamente com a varicocele para a melhora. 

Lembrando que 80% dos homens que tem varicocele vai ter semên normal e vai conseguir ter filho, sem precisar tratar esse problema. Agora, em casos de alterações no semên e varicocele vale a pena fazer o tratamento. 

Não existe tratamento clínico para varicocele, são todos cirúrgicos, podendo ser uma cirurgia aberta, por vídeo ou com uso de microscópio. Veja mais informações:

Cirurgia aberta 

A cirurgia aberta, chamada também de Ivanissevich, é feita sob anestesia local e permite a identificação e preservação da artéria testicular e dos vasos linfáticos. Mesmo sendo mais complexa, essa técnica é minimamente invasiva, fazendo-se a ligadura (amarra) das veias dilatadas, preservando a artéria testicular. 

Cirurgia por vídeo 

Já a cirurgia por vídeo, conhecida como videolaparoscopia, utiliza o método suprainguinal ou retroperitoneal, onde os vasos espermáticos são ligados em bloco, diminuindo as chances de ligar alguma artéria no outro testículo. Porém, é menos indicada, pois apresenta riscos como perfuração da bexiga, intestino ou de grandes vasos, além de ter a possibilidade de voltar, já que é feita ainda dentro do abdômen. 

Cirurgia por microscópio 

Por fim, a técnica que utiliza o microscópio, é feita por meio de uma pequena incisão na região inguinal, utilizando o microscópio de grande aumento para corrigir as varizes nos testículos. Ela é está bem estabelecida, pois traz mais resultado e com menos efeitos adversos, por ser feita mais baixa. Ela dura em torno de 2h e a chance de sucesso desse procedimento é de 70%. 

Além do tratamento cirúrgico, existe a embolização, um procedimento igual ao cateterismo, onde é pulsionado uma veia, inserido contraste e vai até onde estão as varizes, sendo colocados êmbolos para entupir. Porém, esse tratamento é ruim, pois 20% das vezes não se consegue chegar até o lugar necessário para fazer o entupimento e, quando é possível chegar para jogar os êmbolos, existe 30% de chance do problema voltar. 

Pensando na cirurgia microscópica, que é o mais recomendado a se seguir, é importante ter em mente que vai existir uma melhora após 3 meses de cirurgia. Isso porque, o que o homem ejacula hoje, ele começou a produzir há 3 meses atrás. Demora esse período para começar a sair, o que foi produzido na ejaculação. 

Então, quando acontece a operação da varicocele, o que se espera é uma melhora de 3 a 6 meses. Porém, após 9 meses, é um cenário mais positivo de melhoria e, se depois de um ano não melhorou, é recomendado procurar outras formas de gravidez, que não seja a melhora do semên. 

Qual é o tempo de recuperação esperado após a cirurgia de varicocele?

Após a cirurgia para tratamento da varicocele, o paciente vai embora no mesmo dia, entre quatro a cinco horas, após o procedimento. 

Como a cirurgia é feita com cortes de até 2 centímetros, na região sub inguinal, sendo necessário cortar apenas tecido e gordura, o paciente poderá pegar de dois a três dias de atestado e uma semana sem atividade física vigorosa, como sexo, exercícios na academia ou ginástica. Passado esse período, tudo pode voltar ao normal. 

Existem riscos ou complicações associadas à cirurgia de varicocele?

Na cirurgia com microscópio, é mais fácil a identificação das veias dilatadas e não correr o risco do ligamento de nervos e linfáticos. O risco desse procedimento é o mesmo que em outros, como:

  • sangramento;
  • hematomas;
  • dores;
  • infecções. 

Vale reforçar que mesmo existindo eles são muito baixos, menos de 5% da possibilidade de ocorrer. 

Já em cirurgias que não utilizam o microscópio, fazer a diferenciação das veias é mais complicado. Se acontece o ligamento linfático, por exemplo, acontece o acúmulo de linfas no testículo, chamado de hidrocele, que pode ser uma complicação, principalmente em cirurgias abertas, sem microscópio. Essa possibilidade pode acontecer em 20% dos casos. 

Outro risco é o ligamento das artérias do testículo, podendo diminuir a irrigação e acarretar na atrofia. Neste caso, a possibilidade de acontecer nos outros médicos cirúrgicos que não sejam o microscópio é de 5%. 

Existem maneiras de prevenir a varicocele?

Não existe uma maneira para prevenir a varicocele, de fato. No entanto, o que pode ser feito pelo paciente é contribuir para que essa condição não piore. Aqui entram as questões de saúde mesmo, como obesidade, sedentarismo, má alimentação, entre outras ações que podem levar o homem a ter sobrepeso, resultando na piora da varicocele. 

Outro ponto importante é prevenir os efeitos, ou seja, operar assim que perceber que está tendo um efeito negativo nas tentativas de se tornar pai. A adolescência é o melhor cenário para realizar a cirurgia, já que aumentam as chances daquele homem ser fétil no futuro. Sendo assim, se o adolescente tem varicocele e notou a redução do tamanho do testículo é o momento de operar. 

Ainda são poucos os estudos que comprovem que a melhor escolha é operar da varicocele na adolescência, mas o fato é que existe uma piora progressiva do testículo, por conta da varicocele, então operar agora é melhor do que daqui há 5 anos, por exemplo. 

O ponto chave dessa doença é saber indicar bem qual o caminho certo a seguir, já que não são todos os pacientes que possuem varicocele que precisam realizar a cirurgia. Inclusive, fora a infertilidade, a varicocele não traz nenhum outro prejuízo para a saúde do paciente. Então é de extrema importância a avaliação de um médico urologista para avaliar os casos, seja você adolescente ou adulto. 

Quais são as perspectivas de recuperação e vida após o tratamento da varicocele? 

A vida do paciente após o tratamento da varicocele segue normalmente, sem nenhuma alteração. Porém, puxando para o cenário da infertilidade, que é o ponto principal quando a gente fala de varicocele, é muito comum acontecer do homem ir ao urologista, o médico fazer a avaliação do semên, identificar que existe a varicocele, o paciente fazer o tratamento necessário e melhora o semên, só que se a mulher não foi avaliada e tem outro fator de infertilidade, como a obstrução de tuba, por exemplo, não adianta nada melhorar o sêmen, porque a gravidez não vai vir. 

Por isso, é de extrema importância que o casal passe na consulta, faça todo o acompanhamento necessário, para entender se a impossibilidade de engravidar é só pelo fator masculino, aí focando no tratamento da varicocele para trazer a gravidez. 

Vale lembrar que nunca está errado operar a varicocele, em casos de infertilidade, isso porque, mesmo que o casal vá para um tratamento de fertilização in vitro, quanto melhor estiver o espermatozoide do homem é melhor. 

Outro ponto que deve ser levado em consideração é a idade da mulher, já que demora de 

6 a 12 meses para acontecer a melhora do semên, ou seja, se a mulher tem 38 a 40 anos, esperar quase um ano para ver a evolução desse tratamento pode ser tempo demais. Então isso precisa pesar na balança numa avaliação do casal para saber se é o melhor caminho para engravidar. 

Já sendo diferentes para homens solteiros que têm alteração seminal e varicocele, valendo a pena ele operar para quando ele quiser ser pai, seja cinco, dez anos, ele ter mais chances. E também para adolescentes que estão só com o problema do tamanho testicular. 

Se após os 12 meses de espera, não houver a melhora do semên e outros fatores não estarem relacionados com as tentativas falhas de gravidez, é o momento de procurar outras técnicas de reprodução assistida. 

Existem novidades ou avanços recentes no tratamento da varicocele? 

A técnica microcirúrgica é a que existe hoje de mais avançada e que possui taxas altas de sucesso. Porém, dentro desse procedimento, é possível utilizar um ultrassom intraoperatório para identificar melhor as veias. Além disso, os aparelhos relacionados à microcirurgia têm melhorado, inclusive, com um aparelho de microcirurgia com visualização 3D e outras tecnologias avançadas para trazer mais benefícios a longo prazo. 

Cada vez mais é feito um tratamento integral do homem, não só para tratar a varicocele, mas para cuidar da saúde como um todo do paciente, contribuindo para  a melhora do semên, principalmente a questão hormonal que ajuda a melhorar a qualidade do espermatozoide. 

Informações adicionais sobre a varicocele 

Para finalizar, é de extrema importância ser reforçado sobre o adolescente. Da mesma forma que a mulher começa a frequentar o médico ginecologista e ter cuidados com a saúde íntima desde menina, o homem também precisa, não só para verificar se há ou não o problema de varicocele. 

É fundamental procurar um médico urologista desde adolescente para terem orientação sobre infecções sexualmente transmissíveis, sobre desenvolvimento do pênis, cuidados de higiene íntima, do mesmo jeito que a mulher faz desde jovem. 

Além disso, caso identifique o aumento no tamanho do escroto, é necessário procurar um urologista para averiguar, já que isso pode indício de outras doenças, como câncer, por exemplo. 

E por fim, se o casal estiver tentando engravidar há mais de um ano, é essencial procurar um médico urologista para o acompanhamento e entender o que pode estar impedindo que ela aconteça, principalmente porque metade dos casos possui algum fator masculino associado.

Matheus Ferreira Gröner

Especialista e Doutor em Urologia e Reprodução Humana pela Universidade de São Paulo (UNIFESP). Suas principais áreas de atuação são: Urologia, Saúde LGBTQIA+, Microcirurgia com reversão de vasectomia/laqueadura e tratamento de varicocele e Reprodução Humana no atendimento de casais inférteis, planejamento reprodutivo com congelamento de óvulos, espermatozoides e embriões e expertise em recuperação seminal em pacientes com lesão medular.
Graduação:
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Residências:
Cirurgia Geral pela Universidade de São Paulo (UNIFESP)
Urologia pela Universidade de São Paulo (UNIFESP)

Especializações e aperfeiçoamentos:
Reprodução Humana pela Universidade de São Paulo (UNIFESP)
Recuperação seminal em paciente lesado medular (UMIAMI)

Doutorado em Urologia pela Universidade de São Paulo (UNIFESP)

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