Semelhante a todos os outros sistemas humanos, o sistema nervoso é o coordenador dos órgãos que formam as vias urinárias – ureteres, bexiga e uretra. Em forma resumida a função da bexiga é atuar como um reservatório para descarte, para isso ela apresenta uma grande impermeabilidade e oscila durante o dia entre dois principais momentos: o enchimento vesical e o esvaziamento promovendo a micção.

Durante a fase de enchimento, o mecanismo que dá a continência precisa estar ativo e a musculatura da bexiga (o detrusor) relaxado. Assim, a urina é mantida isolada em baixas pressões e sem causar sintomas urinários.

De modo contrário, na fase de esvaziamento o mecanismo de continência deve relaxar e a musculatura detrusora contrair a fim de promover a eliminação da urina armazenada. Promovendo um bom fluxo e mantendo desprezível o resíduo pós miccional. Mesmo nesse momento, a pressão dentro da bexiga deve permanecer em níveis saudáveis.

Devido essa fina regulação da função urinária, muitas doenças neurológicas podem comprometer o perfeito funcionamento do trato, podendo levar ao quadro de bexiga neurogênica, causando variados sintomas urinários.

 

Como exemplos podemos citar:
● Acidente vascular encefálico (AVE), o qual pode causar a bexiga hiperativa e hiperatividade detrusora.
● Demências como Alzheimer, que apresentando bexiga hiperativa, hiperatividade detrusora e incontinência urinária de urgência em aproximadamente 25% dos pacientes.
● Síndrome de Parkinson, na qual 50% dos pacientes apresentam ao diagnóstico da síndrome sintomas urinários como noctúria e urgência miccional.
● Traumatismos da coluna, os quais podem causar – dependendo do nível de lesão medular – hiperatividade detrusora neurogênica agravada por dissinergia vesico-esfincteriana, chegando a mais de 95% dos casos.

Por muitas décadas, as poucas opções de tratamento se resumiam à medicação para inibir a contração da bexiga, associada a severos efeitos colaterais ou à sondagem de alívio ou permanente da bexiga. Felizmente, nos últimos anos, o arsenal terapêutico para tais doenças recebeu o reforço de medicações modernas com menores efeitos colaterais, de novos procedimentos minimamente invasivos como a aplicação de toxina botulínica e de novos dispositivos médicos implantáveis que atuam como inibidores da contração vesical.
Desse modo, aquela imagem de aceitação da condição urinária causada pela bexiga neurogênica pode ser modificada para um estado de melhor qualidade de vida e de saúde!

Dr. João Henrique Aguayo Mussy
Urologista – RQE 85981
CRM 171565