O câncer de bexiga é o décimo tipo com maior incidência no mundo. De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), cerca de 90% dos pacientes com esse tipo de câncer têm idade superior a 55 anos, sendo a média no momento do diagnóstico de 73 anos.
Ainda com base nos dados do INCA, em 2023, no Brasil, foram 7870 casos estimados de câncer de bexiga em homens, cerca de 3,9% da população masculina. Já em mulheres, essa taxa diminui, caindo para 3500 casos, sendo 1,5% da população feminina.
Apesar do câncer de bexiga ser mais comum em homens, essa diferença vem reduzindo ao longo dos anos, já que o tabagismo é um dos maiores fatores de risco e o número de mulheres que fumam está aumentando cada vez mais.
O tabagismo se tornou uma das principais causas do câncer de bexiga por estar em cerca de 50% dos casos da doença em homens e 35% em mulheres. Fumantes apresentam chances 3 vezes maiores de desenvolver câncer de bexiga.
O que é câncer de bexiga e quais são os tipos principais?
A bexiga é um órgão essencial do sistema urinário, que desempenha um papel fundamental no armazenamento temporário da urina. Trata-se de um órgão oco e muscular, sendo revestido por uma camada mucosa – o câncer de bexiga, via de regra, atinge essas células, podendo invadir camadas mais profundas ao longo do tempo.
Há quatro tipos mais frequentes de câncer de bexiga:
Carcinoma de células transicionais
Esse tipo de câncer de bexiga representa 90% dos casos de tumores malignos, têm origem nas células uroteliais, que revestem a mucosa da parte interna..
Se não houver o tratamento adequado, pode se tornar invasivo, penetrando as camadas mais profundas da bexiga. Em até 10 anos, 80% dos casos que não tiveram acompanhamento e/ou não foram tratados, evoluem para essa nova fase da doença. Nessa situação, o tumor pode chegar à camada de gordura que reveste externamente a bexiga, podendo acometer órgãos próximos a ela como o reto, a próstata ou o útero.
Carcinomas epidermóides, adenocarcinomas e carcinomas de pequenas células — tipos mais raros de câncer de bexiga
Os carcinomas epidermóides, adenocarcinomas e carcinomas de pequenas células são considerados tumores mais raros encontrados na bexiga, representando 10% dos casos.
Os carcinomas epidermóides costumam ocorrer após infecções ou inflamações crônicas na bexiga. Já o adenocarcinoma, ocorre devido a alteração nas células secretoras da bexiga, sendo bastante raro. E por fim, o carcinoma de pequenas células, caracterizado pelo rápido crescimento, sendo mais comum em fumantes e no trato respiratório, com risco de metástase por todo o corpo.
Quais são as causas e fatores de risco para câncer de bexiga?
O câncer de bexiga é o quarto mais comum em homens, enquanto em mulheres é o oitavo mais frequente. Além do sexo, a idade é um fator de risco importante, pois 90% dos casos de câncer de bexiga é diagnosticados em indivíduos com mais de 55 anos.
No entanto, apesar do sexo e a idade serem grandes fatores de risco, o tabagismo ainda é considerado uma das principais causas da doença. Isso acontece porque parte das substâncias tóxicas presentes na fumaça do cigarro, bem como do cachimbo e do charuto, é eliminada pelos rins junto com a urina e agride a parede que reveste o interior da bexiga, podendo causar alterações na estrutura celular do urotélio.
Por isso os fumantes triplicam as chances de ter câncer de bexiga, em comparação com uma pessoa que nunca fumou, de acordo com dados do INCA.
Além do tabagismo, também existem outros fatores de risco para o câncer de bexiga como:
- raça: homens brancos possuem mais chances de ter a doença (ainda não há uma justificativa comprovada para esse fator de risco);
- uso prolongado de alguns medicamentos, como a ciclofosfamida.;
- baixa ingestão de líquido: diminui a frequência da micção intensificando o contato dos agentes cancerígenos com a mucosa da bexiga;
- exposição a diversos componentes químicos: metais, agrotóxico, óleos, petróleo, droga antineoplásica, alumínio, borracha, plásticos, sintéticos, tinturas, corantes, couro, gráfica, metais, entre outros.
Quais são os sintomas do câncer de bexiga?
Entender sobre os sintomas do câncer de bexiga é de extrema importância, pois são os primeiros sinais dado pelo corpo que algo de errado está acontecendo. Portanto, caso identifique algum dos sintomas abaixo, procure um médico urologista:
Sangue na urina
Também chamado de hematúria, nem sempre será um câncer de bexiga. Pode se tratar de uma infecção, um tumor benigno, cálculos renais ou outros tipos de inflamação. Porém, é fundamental estar atento a esse sinal, já que muitas vezes, esse sangramento pode ser imperceptível, indolor e intermitente.
Na correria do dia a dia, não percebemos alguns sinais que o corpo apresenta e até mesmo ignoramos, pois a rotina não nos permite averiguar o que está acontecendo. E é neste momento que uma possível doença pode acabar se agravando, como é o caso do câncer de bexiga.
Sendo assim, é preciso ter em mente que o sangue na urina é um sinal de alarme importante. Lembrando que em alguns casos, esse sangramento pode ser detectado apenas através de um simples exame de urina.
Mudança no fluxo urinário
Essa alteração também pode estar associada a outras causas como cálculos na bexiga, infecção ou hiperatividade.
Entre as mudanças no fluxo urinário estão:
- micção com frequência maior que normal;
- urgência em urinar, mesmo após ter ido ao banheiro há pouco tempo;
- dificuldade para urinar ou jato de urina fraco;
- sensação de dor ou queimação ao urinar.
Sintomas mais avançados da doença
Além dos sintomas mais frequentes, também existem aqueles que surgem quando a doença já está mais avançada, precisando de um diagnóstico e tratamento urgente do médico urologista. São eles:
- dor na lombar;
- perda de apetite e de peso;
- inchaço nos pés;
- fraqueza;
- dor nos ossos.
Como o câncer de bexiga é diagnosticado?
O diagnóstico do câncer de bexiga é iniciado a partir do momento que o paciente sente os primeiros sintomas e procura um médico urologista.
Para identificar a existência ou não da doença, o médico pede exames de urina, de imagem (ultrassom ou tomografia computadorizada) e cistoscopia (investigação interna da bexiga por um instrumento dotado de câmera).
Como funciona a cistoscopia?
A cistoscopia consiste na introdução de uma fibra óptica pela uretra com iluminação para conseguir visualizar a bexiga. Semelhante a uma endoscopia, pode ser coletado lesões (caso tenha) para biópsia.
Quais são as opções de tratamento disponíveis para o câncer de bexiga?
Caso seja identificado o câncer de bexiga, é necessário que o médico defina o tipo de tratamento, que vai depender do estágio da doença, a extensão do câncer, se ele é superficial ou invasivo e a idade do paciente.
RTU de bexiga:
Para um estágio mais inicial da doença, o tratamento mais recomendado é a RTU de bexiga, também conhecido como ressecção transuretral, que consiste na retirada do tumor por meio de uma raspagem, de maneira endoscópica.
O procedimento de RTU é feito pela uretra, sem ter a necessidade de cortes. Porém, para evitar alguma dor ou desconforto, o tratamento é feito sob anestesia.
O paciente poderá ir para casa entre dois e três dias, dependendo do estado do paciente, podendo haver alguns sangramentos e sintomas irritativos ao urinar por um breve período.
Em caso de um tumor superficial, sem carcinoma in situ associado, a RTU é um tratamento que, na maioria dos casos, tem alta taxa de sucesso para a cura do câncer de bexiga.
Tratamento intravesical:
Administração de medicamentos que são injetados diretamente na bexiga, por meio de um cateter, são recomendados a depender do estadiamento da doença – após estudo da biópsia da lesão..
Entre os tipos de terapia intravesical estão:
- imunoterapia intravesical: faz com que o próprio sistema imunológico do corpo ataque as células cancerígenas. Normalmente é utilizado a vacina BCG, onde células do sistema imunológico são atraídas para a bexiga e ativadas pela BCG, que acabam afetando as células do câncer de bexiga;
- quimioterapia intravesical: utiliza medicamentos quimioterápicos, com o intuito de destruir as células cancerígenas em crescimento. Entre os medicamentos utilizados estão a Mitomicina e Gencitabina.
Cirurgia:
A cistectomia radical é a cirurgia indicada para o tratamento de câncer de bexiga que está em um estágio mais avançado, ou seja, quando a camada muscular já se encontra acometida.
A cistectomia radical é caracterizada pela remoção total da bexiga e de alguns órgãos adjacentes. Em homens, também é necessário a remoção da próstata, de linfonodos da pelve e das vesículas seminais. Já em mulheres, é preciso retirar também o útero, ovários, cúpula vaginal e os linfonodos da pelve.
Após a retirada dessas estruturas, é fundamental a reconstrução do trato urinário. Há algumas opções de derivações urinárias, sendo que a escolhida dependerá do estadiamento da doença e do status clínico do paciente.
A cirurgia dura em torno de 6 a 8 horas, com uma equipe mais capacitada, mas em casos específicos pode chegar até 12h de procedimento. Ela é feita sob anestesia geral e pode ser realizada por via aberta, ou de forma minimamente invasiva (laparoscopia tradicional ou robótica).
Quimioterapia:
A quimioterapia pode ser realizada antes da cirurgia, neoadjuvante, e/ou após o procedimento cirúrgico, adjuvante. Trata-se de um tratamento sistêmico com o intuito de combater a doença primária, assim como focos de metástase. Claro que sua indicação dependerá de alguns fatores, principalmente do quadro clínico global do paciente. Além disso, a quimioterapia pode ser utilizada como tratamento paliativo, em casos muito avançados, onde não há mais possibilidade de abordagem cirúrgica.
Radioterapia:
No caso da radioterapia, é utilizado radiações ionizantes para destruir as células tumorais ou impedir que elas se multipliquem. Tem como objetivo um controle local da doença, sendo uma alternativa em doenças mais avançadas e sem condições de cirurgia.
Como é decidido o melhor tratamento para um paciente?
O tratamento do câncer de bexiga é decidido após a análise dos exames solicitados pelo médico urologista, assim como do quadro clínico e exame físico do paciente, a fim de entender o grau da doença e quais medidas serão tomadas a partir de agora.
Qual é o processo de recuperação após o tratamento do câncer de bexiga?
O processo de recuperação varia de acordo com tratamento definido pelo médico urologista.
No caso da RTU de bexiga, a principal queixa do paciente está relacionada a ardência ou desconforto ao urinar, sintomas que tendem a desaparecer em 1 a 2 semanas após o procedimento.
Já para o tratamento intravesical, o processo de recuperação após a aplicação é bastante rápido, permitindo o retorno às atividades em 24 horas. Os principais efeitos colaterais são irritação e sensação de queimação na bexiga e sangue na urina.
Para a cistectomia radical, o processo de recuperação leva mais tempo, pois estamos nos referindo a uma cirurgia. É importante evitar qualquer esforço físico que exija força, como carregar peso ou empurrar objetos pesados, por cerca de 3 meses. Na maioria dos casos, leva-se pelo menos seis meses para o paciente se recuperar completamente.
Qual a importância da detecção precoce no prognóstico do câncer de bexiga?
A única maneira de prevenção do câncer de bexiga é evitar exposição aos fatores de risco, como tabagismo e aos componentes químicos, já citados . Porém, é de extrema importância o diagnóstico precoce do câncer de bexiga, pois se trata de uma doença que pode apresentar uma rápida progressão.
A detecção precoce pode ser feita através de exames para grupos de alto risco: principalmente tabagistas e pessoas acima de 50 anos. Os exames de rastreio seriam: exame de rotina de urina e ultrassonografia do trato urinário.
Além disso, é importante reforçar a atenção aos sintomas. A hematúria, ou seja, sangue na urina, é um sinal de alerta. Procure um médico urologista para iniciar a investigação.
Quais são as novidades na pesquisa e tratamento do câncer de bexiga?
Além das cirurgias minimamente invasivas estarem aumentando nos centros especializados, a fim de torná-las menos agressivas, o que vem sendo estudado como novidade no tratamento do câncer de bexiga é a preservação vesical.
Esse protocolo vem sendo estudado para pacientes que, mesmo com acometimento da muscular, há critérios para preservação do órgão.. Isso porque, por ser uma cirurgia mórbida, , deve-se pesar o risco e benefício para alguns casos.
Para finalizar, o câncer de bexiga é uma doença comum e que pode trazer grandes consequências para a vida. Por isso, vale reforçar que sendo o tabagismo um fator de risco bem estabelecido, o seu combate precisa ser constante.
Em caso do surgimento de qualquer sintoma, que esteja associado a doença, procure um médico urologista.
- CRM 155700
- RQE 92195
Médico formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Residência em Cirurgia Geral pelo Hospital Ipiranga de São Paulo e residência médica em Urologia pelo Hospital Municipal Dr. Mario Gatti de Campinas- SP. Atua nas áreas de andrologia, disfunções sexuais, reposição hormonal, doenças da próstata, disfunções miccionais em homens e mulheres, litíase urinária e Uro-oncologia.