Você já ouviu falar sobre a ureterolitotripsia? Esse termo difícil de pronunciar, para pessoas leigas no assunto, também pode ser chamado de uretero, que nada mais é que um procedimento cirúrgico necessário para o tratamento de cálculos ureterais — pedras que ficaram retidas no ureter, bloqueando o fluxo normal da urina e causando dores intensas.
Essa doença é comum e pode acometer a população com qualquer faixa etária, mas principalmente entre 20 e 40 anos de idade. Mesmo sendo mais prevalente em homens, a diferença em comparação às mulheres vem diminuindo cada vez mais, provavelmente por razões sociais estarem se igualando, como estilo de vida, hábitos alimentares, rotina de cuidado com a saúde, entre outros.
A ureterolitotripsia, é feita pelo método endoscópico, através de um equipamento fino, chamado de ureteroscópio, que pode ser semi rígido ou flexível.
O que é ureterolitotripsia e para que serve?
A ureterolitotripsia, como dito anteriormente, é uma cirurgia que tem como objetivo fragmentar e retirar os cálculos ureterais por meio da endoscopia. É utilizado os orifícios naturais do corpo (uretra e ureter) para chegar até as “pedras”.
A partir da identificação dos cálculos com a utilização do ureteroscópio, é feita a “quebra” das pedras com laser e a retirada por um extrator para pescar esses fragmentos.
Na cirurgia não há necessidade de incisões ou cortes e é recomendada pelo médico urologista em casos de cálculos ureterais maiores, ou seja, que o corpo não consegue eliminar de maneira natural e, por esse motivo, acarreta em dores muito fortes, que muitos comparam com a dor de um parto normal.
Quais são as condições que levam à necessidade de uma ureterolitotripsia?
Existem algumas condições que fazem com que os cálculos ureterais surjam e seja necessário submeter a cirurgia de ureterolitotripsia. A primeira delas é a predisposição genética. Muitas pessoas acabam nascendo com maior tendência a ter pedras no rim, que posteriormente podem migrar para o ureter.
Além disso, algumas dessas causas são as mesmas que levam a população a ter problemas renais, como:
- beber pouca água;
- consumir sódio e proteína em excesso;
- acontecer erros metabólicos, como deficiência de ou excesso de vitamina D, sequelas de uma cirurgia bariátrica, desenvolver defeitos do rim que podem aumentar o risco;
- ter obesidade;
- ter doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
Como é realizado o procedimento de ureterolitotripsia?
Na maioria dos casos, os cálculos ureterais se apresentam por uma dor súbita e intensa na região da lombar, nas regiões entre costas e quadril, abdômen e podem descer para as pernas. Após sentir esses sintomas, o paciente inicia o seu tratamento indo até o pronto socorro para ter o diagnóstico.
A princípio, são pedidos dois exames para descobrir qual o problema e a gravidade: uma tomografia computadorizada e um exame de sangue para avaliar a função renal. Após a identificação das pedras, o médico irá verificar o tamanho, a posição e o histórico daquele paciente para entender se será necessário a realização da ureterolitotripsia.
É importante frisar que nem todos os casos são necessários passar pelo procedimento cirúrgico. Em situações em que a pedra for pequena, é possível controlar as dores com medicações e esperar o cálculo sair naturalmente.
Se a ureterolitotripsia precisar ser feita, é imprescindível um jejum de 8h, por conta da anestesia, que pode ser geral ou local (raquidiana), dependendo da decisão do médico para cada caso.
Após isso, a cirurgia inicia pela passagem do equipamento (ureteroscópio) pela uretra, passando pela bexiga, até chegar no ureter, onde será identificado os cálculos. Depois da localização, é feita a fragmentação das pedras com o laser e a remoção por com o auxílio de uma pinça extratora.
Além disso, se após a ureterolitotripsia houver inflamação, algum tipo de lesão onde se encontrava o cálculo ou, até mesmo, a possibilidade dele voltar, será necessário a inserção de um cateter chamado duplo J.
O duplo J nada mais é do que um tubo fino e maleável, muito semelhante a um canudo de borracha que fica posicionado dentro do ureter, com uma extremidade na bexiga e outra no rim, com o objetivo de desobstruir a passagem durante o pós-operatório. Ele é retirado, normalmente, entre sete a 14 dias após a colocação.
A ureterolitotripsia pode levar entre 30 a 60 minutos, dependendo do tamanho da pedra, da sua posição e da sua anatomia.
Qual é o tempo de recuperação esperado após o procedimento?
Por não ser uma cirurgia invasiva, que não demanda cortes, o tempo de recuperação do paciente é rápido, tendo alta no mesmo dia, na maioria das vezes.
No entanto, nos próximos três ou quatro dias, você poderá sentir alguns desconfortos que são normais acontecerem no pós-operatório, como:
- dor no rim e na bexiga;
- ardência na uretra;
- sangramento;
- ir mais vezes ao banheiro.
Se esses incômodos não forem minimizados até quatro dias após o procedimento, é necessário retornar ao médico para avaliar a situação. Mas, normalmente, esses sintomas melhoram dentro dos quatro dias.
Existem restrições ou cuidados específicos no pós-operatório?
Existem algumas restrições e cuidados específicos após a ureterolitotripsia, que são fundamentais para a recuperação com mais rapidez e o sucesso do procedimento. São eles:
- repouso: não fazer exercícios intensos, como correr;
- beber mais água: aumentar a quantidade, é necessário maior hidratação;
- tomar as medicações: em casos de dores e infecções é importante tomar todos os remédios prescritos pelo médico.
Quais são os riscos e possíveis complicações associadas à ureterolitotripsia?
Na cirurgia de ureterolitotripsia, as chances de ter complicações são baixas, já que é “simples”. Porém, não podemos descartar o risco anestésico, que existem qualquer tipo de tratamento cirúrgico. Raramente acontece algum problema, pois atualmente os métodos utilizados para anestesias evoluíram muito.
Outras situações que podem acontecer durante o procedimento são lesões na uretra, prejuízo no rim, como cicatrizes ou algum tipo de infecção.
Esses riscos podem ser minimizados através de uma boa avaliação pré-operatória, identificando antes da cirurgia se já existe alguma infecção. Se houver, é importante iniciar com antibiótico e evitar a retirada da pedra naquele momento, priorizando a drenagem.
Durante a ureterolitotripsia é imprescindível que o procedimento seja realizado com delicadeza, evitando movimentos bruscos, que podem romper o canal urinário. Outro requisito, é utilizar um equipamento de qualidade e verificar a necessidade do paciente, se é de um ureteroscópio semi rígido ou flexível, que vai depender de um onde a pedra ficou presa.
Qual é a taxa de sucesso da ureterolitotripsia?
A taxa de sucesso da ureterolitotripsia é alta, de 90% a 95% dos casos, a cirurgia acontece sem nenhuma situação de risco. No entanto, em 15% a 20% dos procedimentos pode não ser possível acessar os cálculos, dependendo do equipamento ou da anatomia do paciente, que pode ter o ureter mais estreito ou com uma angulação desfavorável. Se isso acontecer, será necessário inserir o duplo J e esperar, em média, duas semanas para realizar a ureterolitotripsia.
Além disso, em casos de infecção associada, pode ser necessário esperar, em média, duas a três semanas, para realizar o tratamento da infecção antes da retirada da pedra.
Em ambos os casos, é de extrema importância o acompanhamento do urologista para que a cirurgia não seja feita e acabe piorando ainda mais o problema. Muitos profissionais acabam recomendando a cirurgia sem necessidade e prejudicando o paciente.
Existem casos em que o procedimento pode não ser a melhor opção?
Na maioria dos casos, a ureterolitotripsia será a melhor opção. Além de ter uma alta taxa de sucesso, evita submeter o paciente a procedimentos mais invasivos e apresenta uma recuperação mais rápida..
Em contrapartida, é possível tratar o problema com medicamentos, em casos mais leves, onde não existe infecção e nem dores intensas, esperando a pedra sair naturalmente. Isso porque, mesmo que o procedimento seja considerado simples, qualquer tipo de cirurgia com anestesia requer maior atenção.
Por fim, existe a litotripsia extracorpórea, outra opção de tratamento que é feita por uma máquina que gera ondas para fragmentar o cálculo e sair no fluxo de urina. Porém, não é tão recomendado pelos médicos por não ser tão eficiente quanto a ureterolitotripsia.
O que os pacientes podem esperar em termos de melhoria dos sintomas após o procedimento?
A cirurgia de ureterolitotripsia tira o paciente de um estado crítico, onde as dores são muitas intensas, podendo acontecer em qualquer momento. Sendo assim, após o procedimento, as dores irão desaparecer.
Vale lembrar que ainda existirão alguns incômodos, em decorrência do duplo J e também pela fragmentação dos cálculos durante o período de recuperação, mas nada que se compare com as crises.
É importante ter em mente que, dependendo dos níveis das crises que você estiver passando, a ponte de não aguentar mais, chegou o momento de fazer a ureterolitotripsia, onde resolverá mais rapidamente do que esperar os cálculos saírem naturalmente. Faça o acompanhamento com seu urologista e defina o que é melhor a se fazer!
Há recomendações para prevenir a recorrência de cálculos no ureter?
Depois do procedimento, com a eliminação das dores, é importante seguir algumas recomendações para que esses cálculos não voltem. São elas:
- tomar água regularmente;
- diminuir a quantidade de sódio nos alimentos;
- diminuir ou não abusar no consumo de proteína;
- evitar o consumo de refrigerante em excesso;
- ingerir mais suco de frutas cítricas;
- manter a alimentação que contenha cálcio equilibrada, não abusar;
- fazer investigação metabólica ou corrigir (medicação ou alimentação).
Entretanto, mesmo seguindo todas as recomendações, ainda surgir os cálculos ureterais, por conta da predisposição genética, é fundamental o monitoramento periodicamente, a fim de tratar ou prevenir as possíveis dores.
Não existe uma regra para esse acompanhamento, mas de forma geral ele deverá ser feito de 6 meses a 1 ano, dependendo da avaliação individualizada.
Casos de sucesso ou experiência marcante envolvendo a ureterolitotripsia
Em conversa com o Dr. Gustavo Freschi, médico urologista do Grupo H+ Brasil, ele nos conta duas situações inusitadas que acabaram sendo necessárias a realização da ureterolitotripsia.
A primeira delas, é um paciente que teve crises intensas de cálculos ureterais e precisou ser internado às pressas para a fazer o procedimento na noite de Natal. A cirurgia foi um sucesso e o rapaz teve alta no mesmo dia.
No entanto, não houve o acompanhamento semestral ou anual e os cálculos acabaram voltando. O que o médico não esperava, era que seria no mesmo dia, na noite de natal do ano seguinte, precisando realizar a ureterolitotripsia novamente.
Esse caso só demonstra a importância do monitoramento para evitar que situações como essa aconteçam.
O segundo caso, foi de um paciente que estava viajando, em uma cidade pequena na Bahia, chamada Caraíva, onde a locomoção e a acessibilidade para ir a hospitais são muito difíceis. Ele teve crises intensas e precisou passar quatro noites em um posto de saúde tomando medicação na veia para aliviar as dores e voltou para SP para iniciar o tratamento.
Uma dica valiosa para quem tem viagens marcadas e possui a predisposição para ter cálculos ureterais é fazer o monitoramento antes para evitar que o seu passeio seja interrompido.
Informações adicionais que potenciais pacientes devem saber sobre a ureterolitotripsia
De modo geral, o que podemos perceber ao falarmos da cirurgia de ureterolitotripsia, é a essencialidade do monitoramento e avaliação de um urologista de confiança para fazer com que os cálculos ureterais, juntamente com as crises e dores intensas não retornem para sua vida.
Esse procedimento é que tem de mais eficiente atualmente na medicina para tratamento e pode ser a solução para o seu problema, se houver o acompanhamento da maneira correta.
Sendo assim, para finalizar, é indispensável que você procure um médico urologista de confiança, para avaliar o seu caso e indicar se a ureterolitotripsia é realmente necessária.
- CRM 133833
- RQE 60902
Especialista em Cálculo Renal • Graduação em medicina na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (2003-2008) • Residência Médica em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (2010 a 2012) • Residência Médica em Urologia na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (2013 a 2016) • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia – 2016 . •Preceptor da residência de Urologia da UNIFESP – EPM (2016 a 2017)
• Membro do grupo de Litíase e Endourologia da UNIFESP – EPM – atual